PT, 32 anos de história e luta
Fev 10, 2012
Delúbio Soares (*)
Comemoro
os trinta e dois anos de fundação do Partido dos Trabalhadores com um
sentimento inigualável: sabendo que muito tempo faz, mas como se tivesse
sido ontem. Valeu a pena!
Ainda
estão vivas na memória as imagens daqueles anos difíceis e
desafiadores, onde éramos apenas fé e pura teimosia. Já cheguei a dizer
que nós – os que fundamos o maior partido da história do Brasil – éramos
alvo da descrença de uns, da zombaria de outros. Contamos nos dedos de
uma das mãos os companheiros de então. Nos da outra, os votos
conquistados no início da jornada que nos levaria ao Palácio do Planalto
em 2002.
Éramos
militantes de todas as regiões do país, dos mais diferentes extratos
sociais, cheios de esperança e de disposição de luta. Vínhamos da luta
pela Anistia Ampla, Geral e Irrestrita, que se espalhou por todo o
Brasil e forçou a abertura do regime. Mesmo tendo sido uma anistia menos
generosa do que aquela que propugnávamos, ela possibilitou a abertura
das prisões e a volta ao nosso convívio dos que ainda padeciam nas
masmorras do regime ditatorial, dos que purgavam a tristeza do largo
exílio e as saudades da pátria. Começávamos a escrever a história da
redemocratização e de um Brasil definitivamente comprometido com a
liberdade e os direitos humanos.
Sob
a liderança firme e clarividente de Luiz Inácio Lula da Silva, saído
das greves que paralisaram o ABC, o levaram à prisão, mas apressaram o
fim da ditadura militar, o novo partido congregava líderes sindicais
como Olívio Dutra e Jacó Bittar, que representavam o novo sindicalismo
que surgia, combativo e sem pelegagem; intelectuais consagrados do porte
dos geniais Paulo Freire, Antônio Cândido, Mário Pedrosa, Sérgio
Buarque de Hollanda, Florestan Fernandes, dentre outros, que impregnaram
na doutrina petista um inarredável compromisso com o Brasil profundo e
seu povo extraordinário; os artistas se faziam representar pela figura
inesquecível de minha amiga Lélia Abramo, que colocou na criação de
nosso partido o mesmo talento que iluminou os palcos e as telas por toda
sua longa vida; a figura majestosa de Apolônio de Carvalho, herói da
guerra civil espanhola e lutador pela liberdade; líderes dos movimentos
contra a carestia; lideranças e militantes das Comunidades Eclesiais de
Base; sindicalistas do Movimento pela Educação e lideranças do Movimento
pela Reforma Agrária, embrião do Movimento dos Sem Terra, o MST,
jogando um facho de luz sobre a delicada e inadiável questão fundiária;
eram ex-presos políticos, ex-exilados, lutadores sociais de grande valor
pessoal, muitos deles hoje ministros do governo da presidenta Dilma
Rousseff e que, também, serviram ao governo do presidente Lula.
Recordo
das primeiras campanhas eleitorais, quando elegemos poucos deputados
federais e estaduais, nenhum senador, nenhum governador, poucos
prefeitos, mas vários vereadores. Chegávamos às cidades do interior do
país e falávamos para poucas pessoas, do alto de caixotes ou empunhando
megafones sem grande potência. Da meia-dúzia que nos dava atenção,
oferecia um cafezinho ou abria a janela e o sorriso, vinha a certeza
férrea de que a jornada seria longa, mas a missão valeria a pena.
Recolhemos da generosidade de nosso povo mais simples e mais sofrido as
forças que nos levaram até a vitória em 2002, com a eleição de Lula para
a presidência da República.
Nas
estradas poeirentas do sertão goiano, discursando em vilas e distritos
perdidos em nossa vasta geografia continental, saboreava o sentimento
estranho de estar levando uma palavra de esperança e solidariedade
aquelas irmãs e irmãos esquecidos pelos poderes públicos e pelo opulento
Brasil oficial e, ao mesmo tempo, ser olhado, junto com os companheiros
petistas que me acompanhavam nas campanhas de 82, 86, 88, 89, 90, 92,
94, 96 e 98, como uma espécie de extra-terrestre, que falava verdades,
mas também falava de um Brasil justo, rico, fraterno e democrático, que
não podia existir para quem só conhecia um país que se traduzia em
doenças, fome, analfabetismo, poeira no verão, barro no inverno e a
desgraça do latifúndio improdutivo e da exploração brutal, sem
horizontes de vida e sem amanhã para suas famílias.
Com
o tempo e a nossa renitente decisão de continuar, mais lares nos
acolhiam, mais janelas se abriam em acenos e sorrisos permeavam a
passagem de nossas pretensiosas “carreatas” (meia dúzia de carros
“sambados”, semi-destruídos pelas estradas de terra do interiorzão!) e
mais companheiros se somavam. A cada nova eleição mais votos, nunca
menos. Um prefeito aqui, outro ali, vitórias surpreendentes e um fato
que se tornaria marca registrada de nossos militantes: onde o PT vencia
uma eleição municipal o apoio popular à administração era sempre imenso,
mercê do sucesso de nossas administrações, do “modo petista de governar”,
do surgimento de um partido que – ao contrário dos outros – “subiu ao
povo” e dele recolheu suas orientações e necessidades para formular suas
políticas de governo.
Recordo-me
de outro fato, muito interessante, que se dava tanto em Goiás como e em
todas as outras regiões do país onde Lula visitava Municípios, vilas ou
distritos: nossos adversários, homens ligados ao regime, da extinta
Arena, do PDS, não se seguravam e arrumavam um jeito de vir até nós e
cumprimentá-lo, não escondendo o respeito pelo adversário, o afeto pelo
líder que eles combatiam, mas secretamente admiravam. Era outro dos
signos que me davam a certeza de que estávamos no caminho certo e que
Lula subiria a rampa do Planalto e entraria para a história como o
grande presidente que, realmente, seria.
A
trajetória do PT é uma história bonita que se confunde com o
enfrentamento da ditadura pelas forças progressistas e a
redemocratização do país. A importantíssima reconquista da democracia e
sua consolidação, no maior período de estabilidade institucional em
nossa história, de 1985 até os dias de hoje, tem a marca e o esforço do
partido. Mas também somos o partido da administração pública
modernizada, atenta às demandas da população e da melhoria em suas
condições de vida. Somos o partido que, em uma década de governo, levou
40 milhões de brasileiros à classe média, tirando-os da miséria e
resgatando-lhes a cidadania ultrajada. Somos o partido que mudou a face
do Brasil, recuperou sua credibilidade internacional, reorganizou sua
economia (hoje a sexta do planeta!) e lançou e consolidou as bases do
país forte, competitivo e vitorioso do século 21!
Como
fundador e militante, tenho imenso orgulho de ter participado da
criação de um partido para o Brasil e os brasileiros, para o presente e o
futuro.
Viva o PT! Viva a militância petista!
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