por Celso de Castro Barbosa - Observatório Online.
Engana-se
quem imagina morta a reportagem de investigação no Brasil. Embora os
jornalões, revistas semanais e emissoras de TV emitam precários sinais
vitais do gênero, ele está vivíssimo, como prova A Privataria Tucana,
livro do premiado repórter Amaury Ribeiro Jr.
Lançado
em dezembro e recebido pela grande imprensa com estridente silêncio,
seguido de críticas que tentaram desqualificar a reportagem e o autor, o
sucesso do livro, já na terceira edição e no topo das listas dos mais
vendidos, não se deve a suposto sentimento antitucano. Até porque os
fatos objetivos relatados não poupam o PT. Não há santos na Privataria.
Com base em documentos oficiais, da
CPI do Banestado e outros que o autor conseguiu em cartórios, Amaury
torna pública a relação de dirigentes do PSDB e a abertura de contas no
exterior de empresas de fachada, responsáveis pelo retorno ao Brasil do
dinheiro sujo da corrupção. Dinheiro que voltou, naturalmente, limpo.
Muita
gente deve explicações à Justiça que, nesse episódio como em outros
envolvendo expressivos representantes da elite brasileira, move-se a
passos de tartaruga. Ou simplesmente não se move. Pelo cargo que ocupou
na época das tenebrosas transações, as privatizações da era FHC, José
Serra, então ministro do Planejamento e depois duas vezes candidato à
presidência, prefeito e governador de São Paulo, é quem tem a imagem
mais chamuscada, para não dizer estorricada, ao fim da Privataria
Tucana.
De origem humilde, o
tucano paulista exibe patrimônio incompatível com os rendimentos de um
político. Tudo em nome de sua filha, Verônica, que ao lado de Ricardo
Sérgio, tesoureiro das campanhas de Serra e Fernando Henrique, emergem
como principais parceiros do ex-governador no propinoduto que marcou a
venda das empresas de telecomunicação.
Além
de jogar uma pá de cal na aura de honestidade de certos tucanos, o
livro de Amaury tem ainda o mérito de questionar, involuntariamente, a
atuação da grande imprensa no país. Agindo como partido único, onde só é
permitida uma única opinião, jornais, revistas e mídia eletrônica
defenderam, com unhas e dentes, a privatização. O principal argumento
era a vantagem que traria aos consumidores: eficiência e tarifas baixas
por causa da concorrência. Passados mais de dez anos, o Brasil cobra
tarifas de telefone das mais altas do planeta e as concessionárias são
campeãs de reclamação nos Procons.
Não
bastasse, ao ignorar o lançamento do livro, a imprensa hegemônica
mostra sua face semelhante à dos piratas: um olho tapado, que nada vê, e
outro atento à movimentação dos adversários.
A Privataria Tucana. Geração Editoral. 1ª edição, 2011. Páginas: 344.
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