domingo, 27 de junho de 2010

O drible da vaca de Lula



O que se pode esperar de um homem que foi preso e tratado como bandido por querer organizar sua categoria de trabalhadores e reivindicar salários mais justos? Que aprendeu neste processo, que para mudar seu destino e o de milhões iguais a ele, deveria entrar num campo de batalha maior, para alcançar os instrumentos transformadores? Que, depois de 4 tentativas, chegou enfim, ao cargo que o habilitava a mudar a sorte de milhões de pessoas? Que passou os últimos 8 anos sendo emboscado para perder o cargo que conquistou democraticamente?

Esperam-se deste homem três coisas fundamentais: sabedoria, coragem e determinação.

Obrigado a socar facas na convivência diária com seus inimigos, Lula adquiriu intimidade e sabedoria para prever-lhes cada movimento, cada idéia e cada motivo. Subverteu sua democracia fajuta (que oferecia ao povo sempre os mesmos candidatos, comprometidos com os interesses dos mesmos grupos) reinventando seu conceito mais sagrado: o governo do povo, pelo povo e para o povo. Assim, os excluídos passaram a ser justamente os que não precisam do estado nem de governo.

A única ausência que as elites conservadoras realmente sentem é a de um presidente almofadinha, como FHC, que dava entrevistas em inglês ou francês, negando sua língua natal, como se as únicas fronteiras existentes no mundo fossem as que separam pobres e ricos. De resto, além do seu partido, outro grupo que rola ladeira abaixo é a velha mídia. A Globo e os impressos de sua “tchurma” se contorcem como um doente terminal que prefere morrer inteiro a amputar uma perna gangrenada.

Lula, escolado depois participar de 5 eleições, deu o drible da vaca nos seus opositores e teve a perspicácia de planejar sua sucessão na ponta do lápis. Imagino aqui, com meus botões, como foi o momento em que visualizou Dilma como sua sucessora. Contra o Serra, o óbvio mais raso, viu uma mulher forte, de uma vida pública limpa, braço direito de um governo que consolidava seu sucesso junto à maioria da população. Previu e pesou os argumentos possíveis que a direita reuniria contra ela: mulher não tem pulso forte, jamais participou de uma eleição, não tem experiência gerencial, foi guerrilheira, é comunista comedora de criancinhas, arrogante e agressiva. Planejou como o eleitorado, velho conhecido seu, entenderia estas acusações: mulher não tem pulso forte? Machismo da classe média. Jamais participou de uma eleição? Melhor, não tem os cacoetes de político profissional. Não tem experiência gerencial? PAC neles! Guerrilheira? Batalhadora. Comunista comedora de criancinhas? Conta outra. Arrogante e agressiva? Lidar com o universo machista da política não pode ser na base da meiguice.

Não é Lula que propõe o plebiscito. São os candidatos que se apresentam e as forças políticas que representam, que fazem o processo convergir para o “Sim” ou “Não”. Lula apenas anteviu de longe o que estava por vir e armou seu contra-ataque certeiro.

Não se trata também de se perpetuar no poder. Ditadores sanguinários e reis se perpetuam sem nada realizar pelo seu povo. O PSDB deita e rola em São Paulo há 16 anos e TODOS os índices mostram que a vida do paulista piora ano após ano. E não é este o caso do resto do país como os índices não cansam de mostrar. Trata-se, aqui, de dar fôlego a um projeto de reformas, que não cabe em 2 mandatos. Um país de proporções continentais, que passou 500 anos sob um modelo escravagista, não se reforma em 8.

Na educação, por exemplo – universidades federais, extensões, escolas técnicas, Pró-Uni, sistema de cotas etc. – todas estas ações vão frutificar nas próximas gerações. Na infra-estrutura, obras direcionadas ao crescimento nas regiões menos desenvolvidas do país vão se consolidar ao longo da próxima década. Assim como os recursos do Pré-Sal que, administrados de forma soberana, e destinados à educação, cultura e ciência. E quanto ao Brasil no plano internacional? O fortalecimento do Mercosul, vital para o continente; as relações bilaterais com a África, Ásia e Oriente Médio; o papel da nova diplomacia brasileira…

Outro ponto fundamental, que não pode perder o foco, é a agregação de outros setores da sociedade a novos meios de comunicação. E essa é uma das razões pela qual os atuais grupos midiáticos centram seus ataques em Dilma e no PT. Acusam o governo de planejar “suprimir-lhes” a liberdade de imprensa – quando, em verdade, deseja apenas construir meios de proteção para si próprio e para a sociedade contra sua artilharia golpista. Os resultados da Confecom – discutidos com um amplo espectro da sociedade e o PNBL – representam construções profundas, que, a médio prazo, devem se contrapor aos atuais monopólios midiáticos.

Tudo isso, enfim, jamais poderia cair no colo de alguém que foi concebido em vídeo e que anda entre anúncios das Casas Bahia e capítulos da novela das 9. Um fraco de espírito, descompromissado com o país e seu povo, que carrega um trem de ego nas costas e que é capaz de servir a quaisquer interesses em troca de bajulação em publicações como Caras e Veja.

Enquanto Serra pulava de galho em galho como um selvagem esfomeado, sem cumprir mandatos ou deixar qualquer rastro de benefícios à sociedade, Lula preparava-lhe a cama onde irá dormir até a próxima janela eleitoral. E não há factóides, golpismo barato ou dossiês que mudem-lhe o destino. Aliás, Serra é um dossiê ambulante de si mesmo. Claro, de Quem mais seria?


Do amigo Roni Chira, do Blog O Que Será Que Me Dá?

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