Ontem à noite, o ministro Orlando Silva apareceu no programa da Rede
Globo “Fantástico” em uma matéria que, para o público, deixou poucas
dúvidas de que os acusadores desse ministro e do seu partido (PC do B) –
e, por tabela, do ex-presidente Lula e da presidente Dilma, que o
nomearam – estão falando a verdade.
Esse tom da imprensa de apoio irrestrito à versão dos acusadores de
Silva é muito mais forte na revista Veja. Na publicação, ao acusado pela
sua matéria só resta demissão e, em seguida, o cárcere. A palavra de
pessoas acusadas, processadas e até presas por formarem uma quadrilha é
tomada como expressão da verdade.
Os programas de tevê e rádio, os editoriais, as colunas, as análises,
as cartas de leitores, as manchetes e até as pretensas reportagens já
condenaram os acusados pela Veja – entre os quais está um partido
político inteirinho –, mas inexistem em escândalos envolvendo os
adversários políticos desses acusados.
O escândalo sobre as emendas parlamentares ao Orçamento do governo de
São Paulo, que envolve deputados da base de apoio ao governo Geraldo
Alckmin, não saiu na Veja, não saiu no Fantástico e, sobretudo, o
governo Alckmin e seu partido inteiro não foram alvo da condenação
opinativa da grande mídia. Ninguém ousa tratar casos iguais com
igualdade.
Todos essas matérias contra Orlando Silva e seu partido não ocorrem
no caso paulista apesar de também ter um denunciante que acusa e faz
ameaças como o que acusou e ameaçou o ministro. E o que é pior: quem
acusa o ministro e seu partido é alguém com graves problemas com a lei e
quem acusa o governo Alckmin e sua base de apoio é um parlamentar
contra quem, ao menos até aqui, não pesa denúncia alguma.
Este blogueiro apoiaria a imprensa se tratasse os dois casos da mesma
forma. Se o fato de haver um denunciante que militava na base de apoio
do governo Dilma torna a denúncia contra o PC do B verdadeira, por que o
fato de haver um denunciante da base de apoio do governo Alckmin não
torna sua denúncia igualmente verdadeira?
Por que esses colunistas que já julgaram e condenaram um lado não
condenam o outro se os elementos de prova são idênticos? Por que a
denúncia de baixa credibilidade de um elemento como o policial militar
João Dias Ferreira contra o governo Dilma é mais forte do que a denúncia
de alta credibilidade de um deputado como Roque Barbiere contra o
governo Alckmin?
Conclusão inescapável: o caso das emendas parlamentares ao Orçamento
de São Paulo só difere do caso das ONGs do ministério dos Esportes na
cobertura jornalística. Quem, então, terá coragem de perguntar ao vivo –
e, se possível, no Jornal Nacional – por que casos iguais são tratados
com tanta diferença?
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