Bruno Covas:‘Foi só um exemplo didático’
São
Paulo – O secretário estadual de Meio Ambiente, Bruno Covas, não
compareceu na tarde de terça-feira 11 à reunião do Conselho de Ética da
Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), que apura denúncias feitas
pelo deputado estadual Roque Barbieri (PTB) sobre a existência de um
esquema de venda de emendas por deputados paulistas. Na semana passada, o
conselho decidiu convidar o secretário para prestar esclarecimentos
sobre declaração que ele deu ao jornal O Estado de S. Paulo na qual diz que um prefeito lhe ofereceu propina após a aprovação de uma emenda parlamentar.
Apesar do convite aprovado na
reunião anterior não ter sido entregue ao secretário, fato que gerou
revolta nos partidos de oposição presentes à reunião do conselho, Bruno
Covas decidiu, mesmo assim, enviar um documento, de duas páginas, com
explicações sobre o que disse ao jornal.
No documento, que foi lido por
um funcionário da Alesp, o secretário diz que a declaração de que um
prefeito lhe ofereceu propina foi apenas “um exemplo didático” que ele
usa com frequência em palestras, encontros e conversas como forma de
ilustrar “qualquer tentativa de abordagem inadequada”. Sem esclarecer se
o exemplo é um fato real ou hipotético, o secretário encerra a carta
dizendo que a “entrevista em questão tem sido utilizada politicamente”.
Para o líder da bancada do PSDB
Orlando Morando, a carta do secretário “deixa claro que ele nunca
recebeu um prefeito”. “Quando ele fala ‘de forma hipotética’ é porque o
fato não existiu. Se tivesse existido o fato, tenho certeza que ele já
teria vindo a público, dando o nome do prefeito e a cidade onde isso
ocorreu”, disse.
O Conselho de Ética foi instaurado para apurar as denúncias feitas pelo deputado Roque Barbieri ao jornal Folha da Região,
de Araçatuba (SP). Na entrevista dada ao jornal, o deputado diz que
entre 25% e 30% dos deputados da Casa estariam envolvidos com um esquema
de vendas de emendas. Os deputados estaduais têm direito de apresentar
anualmente, ao governo do estado, indicações para o repasse até 2
milhões de reais em verbas para obras, hospitais e projetos de
interesses de seus redutos eleitorais. O conselho pretende apurar a
existência de parlamentares que se aproveitavam desse direito para
negociar ou vender as emendas para prefeitos e empreiteiras.
Na carta, Bruno Covas não comenta sobre a notícia publicada em O Estado de S. Paulo
que denuncia que ele, enquanto deputado estadual, conseguiu liberar 8,2
milhões de reais em emendas parlamentares somente no ano passado,
quando o valor de cota anual por deputado é 2 milhões de reais.
Para o deputado Orlando Morando,
não há irregularidades nisso. Esse valor, segundo ele, não se refere
especificamente a emendas, mas a “um recurso a mais que não é a emenda
parlamentar”. “Não acredito que ele [Bruno Covas] teve direito a 8
milhões de reais em emendas. Nada impede que ele tenha conseguido esses
recursos por meio da Casa Civil, que não são emendas parlamentares”,
disse Morando.
O líder do PSDB declarou ainda
que pedirá à Casa Civil que o governo de São Paulo divulgue todas as
emendas de parlamentares de seu partido desde 2007. “Seria um bom
exemplo os demais partidos fazerem isso também”, ressaltou.
O deputado Enio Tatto, líder da
bancada do PT, propôs a criação de uma comissão parlamentar de inquérito
(CPI) para apurar as irregularidades. “A Comissão de Ética, eles
[deputados de base do governo] vão desqualificar”, disse.
Tatto
informou que já dispõe de 28 assinaturas e são necessárias mais quatro
para conseguir protocolar o pedido de abertura de CPI. “Queremos abrir a
CPI para podermos ter o poder de convocação,de poder chamar os
prefeitos, as entidades e o próprio [secretário] Bruno Covas. Tudo isso
só poderemos fazer por meio da CPI”.
Para Morando, a instalação da
CPI não é uma boa saída porque ela “não vai conseguir apurar o que a
sociedade quer no momento. Ela demoraria 18 meses para ser implantada.
Já a Comissão [de Ética] tem prerrogativa para fazer isso”.
A reunião de hoje da comissão
foi, mais uma vez, marcada por tumultos. Prevista para as 14h, a reunião
só começou por volta das 15h45 e se estendeu até as 19h30, quando os
deputados tiveram que sair para uma reunião extraordinária.
Hoje a comissão deveria
deliberar sobre oito requerimentos, mas só começou a votá-los após às
18h30, sem conseguir votar tudo. Dos oito requerimentos, os deputados
rejeitaram três, entre eles, o que pedia a convocação de três
ex-secretários do governo. Na próxima quinta-feira, a partir das 15h, o
conselho deve se reunir novamente para votar mais três requerimentos e
os dois que não foram votados esta tarde.
Agência Brasil
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