publicada quinta-feira, 06/12/2012 às 14:37 e atualizada sexta-feira, 07/12/2012 às 12:59
por Rodrigo Vianna
A campanha de 2014 começou. Dois anos antes. E a prova disso não é o
lançamento prematuro de Aécio Neves à presidência pelo PSDB.
Toda uma rede de militantes – apócrifos, em geral - ocupou a internet
nos últimos dias, para uma campanha de ataques múltiplos contra a honra
de Lula. A campanha é parecida com aquela feita contra Dilma em 2009 e
2010 – apontando a então ministra como “terrorista” perigosa. Fotos,
montagens, “denúncias” falsas alimentaram as redes sociais. Em 2009,
Dilma chegou a aparecer ao lado de um fuzil. A “ficha” (falsa) da
ministra no Dops (“capturada”) circulou em blogs de extrema-direita.
Jornalistas mais afoitos embarcam em ondas desse tipo. Foi o que fez a
“Folha” em 2009. Estampou a ficha de Dilma em primeira página. Quando a
patranha ficou demonstrada, o jornal deu uma explicação inesquecível:
publicara a ficha porque sua autenticidade “não podia ser confirmada,
mas tampouco podia ser descartada”.
Agora, em 2012, Ricardo Setti da “Veja” pelo menos pediu desculpas. O
jornalista (!) publicou foto-montagem grosseira em que Lula aparece
abraçado a Marisa Leticia e Rose. A foto circulava pelas redes sociais.
Setti achou genial ilustrar um “post” usando a foto - que imaginava ser
verdadeira.
A “Veja” é capaz de qualquer coisa. Já caiu em conto de primeiro de
abril. O glorioso “boimate” (piada de uma revista estrangeira, escrita
sob encomenda para o primeiro de abril) foi levado a sério na publicação
da família Civita. Os editores acreditaram na mistura genética de boi e
tomate. Agora, a “Veja” de Ricardo Setti acreditou na montagem para
agredir Lula, assim como a “Folha” acreditara na ficha falsa de Dilma.
Tudo isso mostra a podridão da velha mídia de sempre. Mas nada disso – diga-se – serve pra ganhar eleição.
Alias, imaginava eu que os tucanos seriam mais cuidadosos com a
estrategia para 2014. O PSDB tem alguma chance de ganhar se caminhar
para o centro com Aécio. O figurino “pitbull” – adotado por Serra, sob
inspiração de blogueiros e pastores com estranhas obsessões sexuais –
não deu certo! O figurino pitbull serve só para tornar os antipetistas
mais raivosos, da mesma forma que unifica os lulistas para o combate
contra os tucanos e a velha mídia.
Acontece que – no meio do caminho – há um eleitorado mais “centrista”
que, nas eleições desde 2002, o PT conseguiu atrair. Gente que não
detesta o PT, mas tambem não ama o Lula. Não é com montagens grosseiras
que o PSDB vai conquistar essa gente.
Mas a publicação que ganhou destaque no site da Veja é só a ponta do
iceberg – se me perdoam o lugar-comum. Na rede, no submundo da política e
da velha mídia, o vale-tudo corre solto.
Um amigo jornalista procurou-me
ontem pra contar que passou a receber emails falsos nos últimos dias –
com as denúncias mais absurdas contra Lula. Outros colegas na Redação
confirmam: há em curso a tentativa de criar – nas redes sociais –
uma ”onda” incontrolável, pra colar em Lula a imagem de
bandido/cafajeste. O “Mensalao” não colou, a ideia de chamá-lo de
“apedeuta” não havia colado, o terrorismo religioso também não. Sobraram
ataques pessoais. Foi o que Collor fez em 89.
Mas, podem perguntar alguns, por que atacar Lula se o adversário de
2014 deve ser Dilma? Escrevi sobre isso aqui – Lula, Dilma e o PT:
fatiados. Enfraquecer a imagem de Lula é passo fundamental para a
oposição. Dilma forte, tendo apoio de um ex-presidente tão forte como
Lula, tornaria a batalha perdida antes de começar. Por isso, os ataques
sao “fatiados”.´É preciso minar Lula, o PT e – num segundo momento –
Dilma.
Suponho que a “onda” na internet não garanta coisa nenhuma aos
tucanos. Imagino até que os mais refinados entre eles sequer concordem
com essa “onda” moralista rastaquera. É só mais um passo rumo ao
pântano, onde a oposição sem programa se deixa dominar por blogueiros
enfurecidos, pastores dementes e gente do submundo da política.
Ataques exagerados contra Lula e atos como a recusa em colaborar pra
redução das contas de luz (esse sim adotado sob a égide da liderança
mais “orgânica” do tucanato) só ajudam a reforçar a imagem de que a
oposição joga contra o Brasil – numa tentativa desesperada de voltar ao
poder.
Tenho a impressão que Aécio, se assumir de fato o comando do PSDB,
vai mudar essa linha de ação. Até porque, uma campanha em que se
exponha a vida pessoal de políticos e candidatos não é algo que possa
interessar ao senador mineiro – fustigado, dentro do próprio partido,
por dossiês e histórias sobre seus hábitos pessoais.
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