"HOMEM-BOMBA" DE VEJA FEZ CHANTAGEM NO TSE
Pivô de uma denúncia em Veja que visa desacreditar o ministro Ricardo
Lewandowski, o auditor Rodrigo Aranha Lacombe tentou pressionar, em
outubro do ano passado, a presidente do Tribunal Superior Eleitoral,
Carmen Lúcia, a efetivá-lo em Brasília; do contrário, ele denunciaria
supostas ilegalidades no TSE a veículos de imprensa; Lacombe dizia ter
sido procurado por jornalistas da Folha, da GloboNews e da revista
Época, mas, aparentemente, ninguém o levou a sério; só agora, às
vésperas da análise dos embargos da Ação Penal 470, Veja comprou sua
história, mas omitiu seu passado de ameaças e chantagens, que ficaram
documentadas; confira
247 - No dia 31 de agosto de 2012, um servidor sobe até a presidência do
Tribunal Superior Eleitoral para dar declarações sobre supostas
irregularidades em processo de prestação de contas do Partido dos
Trabalhadores (2003) relatado pela presidente do TSE, ministra Cármen
Lúcia.
O servidor chama-se Rodrigo Aranha Lacombe, auditor da secretaria da
fazenda de Tocantins que, desde outubro de 2003, foi requisitado para
trabalhar no TSE, por razões irregulares até então desconhecidas. Quando
chegou à presidência, Aranha Lacombe estava muito tenso porque dentro
de alguns dias teria que depor à Comissão de Sindicância interna
instalada pela presidente do TSE, exatamente para apurar denúncia de
ilegalidades no exame das contas partidárias do Partido Progressista
(PP) e do Partido Renovados Trabalhista Brasileiro (PRTB).
Começava, assim, um pesadíssimo jogo de pressão e chantagem que,
felizmente, pela esperteza de dois juízes, tudo ficou gravado e
documentado na cúpula da Justiça Eleitoral. Vazamentos seletivos e
omissões intencionais na matéria de VEJA desta semana suprimiram parte
das declarações de Aranha.
E o que foi suprimido é fundamental para compreensão desse vergonhoso
episódio montado por alguém desesperado e com medo de ser devolvido para
Tocantins, lugar de onde se diz que fugiu ameaçado de morte. Tudo esta
aqui, entre aspas e comprovado em documento oficial integralmente
exposto no final dessa reportagem.
A fuga do Rei
Rodrigo Aranha Lacombe inicia a sua história – na presidência do TSE –
revelando seu passado nebuloso e intimidador ao contar que “no curso de
suas atividades funcionais em Tocantins, teve oportunidade de denunciar
as irregularidades da SUDAM, irregularidades essas relativas ao desvio
de verba que propiciaram a prisão de Jader Barbalho; que também
identificou, em seu trabalho, desvios de recursos públicos na secretaria
da fazenda de Tocantins, o que acarretou processos contra o secretário;
que a sua situação ficou bastante complicada em Tocantins; que recebeu
diversas ameaças; que o pai do declarante, Cláudio Lacombe, amigo do
Ministro Pertence, deu noticia a este sobre a situação do filho; que o
Ministro Pertence resolveu requisitar o declarante para o Tribunal
Superior Eleitoral; que isso se deu em outubro de 2003; que o declarante
foi vítima de represálias diversas em Tocantins”, local onde ficou
conhecido como o “Rei das Denúncias”.
Ministra Presidente do TSE sob ameaça
Em seguida, Aranha Lacombe declara que, desde então, está lotado na
Coordenaria de Exame de Contas Partidárias e Eleitorais (COEPA) e começa
a sua tentativa de pressionar a presidente do TSE. Diz o “pressionador”
que “em 2010, ocorreu um problema com as contas prestadas pelo Partido
dos Trabalhadores, contas essas relativas ao exercício de 2003; que a
Ministra Cármen Lúcia era relatora; que a Ministra Cármen Lúcia aprovou
as contas, monocraticamente, com ressalvas; que a assessora da Ministra
Cármen Lúcia, cujo nome não se recorda, foi negligente, porque eram
graves e de fácil comprovação as irregularidades; que existia uma
certidão da secretaria judiciária dando conta da suspensão da imunidade
tributária do Partido dos Trabalhadores e uma denúncia do Ministério
Público Federal, em razão do mensalão (...); que o declarante examinou o
processo identificando várias irregularidades; que formalizou um
parecer, que isso ocorreu no final de 2010”.
Eis o lamentável episódio, em que Lacombe chantageia inutilmente a
ministra Cármen Lúcia, porque segundo ele, a ministra aprovou sozinha,
ou, “monocraticamente”, as contas irregulares do PT de 2003, época do
mensalão.
55 milhões de votos na lata do lixo...
Na sequência de seu depoimento, Aranha Lacombe faz nova “pressão”. Diz
que durante a prestação de contas de campanha de Dilma Rousseff e Michel
Temer ele teria encontrado uma falha na documentação da candidata
eleita. Para Lacombe, faturas de pagamento e bilhetes aéreos não eram
suficientes para comprovar o gasto, mas, somente uma nota fiscal.
Lacombe fez carga para que Dilma e Temer não fossem diplomados
presidente e vice-presidente da República. A tese de Lacombe não
convenceu os seus colegas, uma vez que não é usual emitir notas fiscais
para quem compra passagens aéreas.
Nesses casos, o comum é juntar as faturas de compra e os bilhetes
emitidos. Servidores do setor argumentaram que o artigo 30 da Lei
12.304/2009 permite que o partido tenha prazo para juntar novos
documentos e obtenha aprovação com ressalvas. Inconformado por não ter
convencido seus colegas, Lacombe se recusou a assinar o parecer
conjunto.
Ficou isolado. Claro. A equipe técnica estava unida contra a pretensão
de Rodrigo Aranha Lacombe conforme o próprio confessou, com as seguintes
palavras: “que o declarante não admitiu a emissão de novo parecer nem
tampouco com a retirada daquela parte; que o parecer foi alterado; que
pediram as declarante que o assinasse; que o declarante discordou; que
outros servidores pediram ao declarante para assiná-lo”.
Com efeito, o parecer saiu com assinatura de toda equipe, menos,
obviamente, com a de Lacombe, o homem que queria impedir a diplomação de
Dilma Rousseff, já eleita com 55 milhões de votos, por uma quizila
formal.
Pego na mentira pela Folha de S. Paulo!
Em seguida, diz ele que “tempos depois, mais precisamente neste ano,
Mary Helen contou ao declarante que isso ocorreu a pedido do Ministro
Ricardo Lewandowski”. Entretanto, conforme revelou o jornal Folha de São
Paulo, de 10/8/2013, na coluna painel, da jornalista Vera Magalhães:
“Eu não... ouvida por uma comissão de sindicância interna, em novembro
de 2012, a ex-secretária do TSE [Mary Ellen Gomide] negou ter pedido que
Rodrigo Lacombe fizesse qualquer alteração no relatório. Também negou
que Lewandowski tenha pedido mudanças”.
O jornal trouxe ainda uma importante mensagem do ministro Ricardo
Lewandowski, em e-mail enviado do exterior, para a sua ex-diretora que
“se as contas apresentarem problemas sérios, como doações de fontes
ilegais ou de lavagem de dinheiro, devemos agir com o máximo rigor
possível” (painel, A4).
Tiros a esmo
Nas suas declarações, cuja íntegra seguirá abaixo, o “Rei das Denúncias”
dispara tiros a esmo contra inúmeros servidores do TSE, ex-diretores
que, segundo ele, sabiam de tudo e tinham estranhos interesses em um
contrato milionário com a UNISYS porque o “dinheiro estava disponível”.
Lacombe também resolve disparar contra seus colegas da COEPA que
manteriam relações promíscuas com advogados do PRTB.
Com isso, Lacombe já antecipava, na presidência do TSE, o depoimento que
teria que dar, dias depois, na sindicância interna para instaura para
apurar denúncia de irregularidades nas contas do PRTB e do PP.
Real motivo das denúncias
Ao final da sessão de chantagem, Rodrigo Aranha Lacombe revela o real
motivo de ter disparado a sua velha e conhecida metralhadora giratória:
“que tem interesse em permanecer em Brasília; que espera que a sua
cessão seja prorrogada; que não tem tempo para aposentar; (...) que
essas coisas só param na mão do declarante”; E para intimidar, usa a
imprensa como trunfo final: “que foi procurado por três órgãos de
imprensa, mais precisamente, jornalistas da Revista Época, da Folha de
São Paulo e da Globo News”.
Desfecho
A “pressão” não funcionou porque a ministra Cármen Lúcia agiu dentro da
legalidade no caso do PT (2003) e no mais ele foi desmentido. A
presidente do TSE não renovou o pedido de requisição pela 10a vez
porque seria absurdamente ilegal. É que Rodrigo Aranha Lacombe não veio
para Brasília por interesse público como manda a lei de regência, mas
sim, por interesse privado, por uma troca de favor entre o ministro
Sepúlveda Pertence e um velho amigo preocupado com o filho, que passou a
vida metido em confusões e fabricando escândalos. Lacombe nunca prestou
concurso para a Justiça Eleitoral, mas conseguiu ter a sua requisição
renovada de 2003 até 2012, 9 vezes, por nove longos anos, sem nenhum
interesse público em questão e, portanto, de forma irregular.
Lacombe executou o seu plano de chantagem ao vazar parecer apócrifo (sem
protocolo, sem assinatura e sem data) para o jornal Folha de São Paulo,
contrariando decisão da ministra Cármen Lúcia na prestação de contas do
PT, no 2003.
Depois, em outro tema, vazou para a revista Veja, que soube de uma
servidora que o ministro Ricardo Lewandowski teria dado ordem para
aprovar contas de campanha de Dilma. Um disse-me-disse que foi
desmentido pelo até pelo painel da da Folha de São Paulo, para desespero
do semanário.
O homem-bomba já seguiu para Tocantins, onde deve encontrar velhos
amigos. Inacreditável? O fac-símile do documento – TSELeaks – produzido
na cúpula da Justiça Eleitoral comprova cada linha desse triste
episódio.
A reputação de Cármen Lúcia e Lewandowski segue incólume nesta semana
que inicia o julgamento dos embargos do incerto “mensalão” (o do PT).
Confira, abaixo, a íntegra do documento:
Postado há 8 hours ago por Blog Justiceira de Esquerda
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