terça-feira, 16 de abril de 2013

Dois terços de prefeituras investigadas na Operação Fratelli são da base de Alckmin

Suspeita atinge cerca de R$ 1 bilhão em licitações dirigidas para contratar obras. Chefe da Casa Civil, Edson Aparecido, aparece em ligações interceptadas, e é defendido pelo governador
Publicado em 15/04/2013, 19:19
Última atualização às 19:36
"Tenho absoluta confiança no trabalho de Edson Aparecido", disse Alckmin (Foto: José Luis Conceição. Palácio dos Bandeirantes)
São Paulo – Dois terços das 75 prefeituras investigadas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal na Operação Fratelli eram da base do Palácio dos Bandeirantes entre 2008 e 2012. Prefeituras de PSDB (13), PMDB (13), DEM (12) e PTB (12) são as principais beneficiárias dos recursos sob investigação dos partidos que compõem a base de sustentação dos governadores José Serra (2006-2010) e Geraldo Alckmin (desde 2011. 
A Operação Fratelli investiga, desde 2007, as empresas Demop Participações e Scamatti & Seller, ambas pertencentes ao Grupo Scamatti, de Votuporanga (SP), e são acusadas de fraudes em licitações de obras de pavimentação e recapeamento em cerca de 80 municípios do interior paulista. Segundo informações do PF e do MP, as licitações sob suspeita atingem cerca de R$ 1 bilhão e podem configurar um dos maiores esquemas de licitações dirigidas da história do país.
O Grupo Scamatti é acusado de burlar licitações nas prefeituras por meio de cerca de 40 empresas, todas pertencentes ao conglomerado, entre coligadas e corporações de fachada, que participariam dos certames com ofertas combinadas de preços apenas para que a Demop e a Scamatti & Seller vencessem as disputas.
Das 15 pessoas presas durante a deflagração da Operação Fratelli, no dia 9 de abril, uma delas, o empresário Osvaldo Ferreira, é apontado nas investigações como principal interlocutor da Demop junto às prefeituras paulistas. Ele foi por oito anos assessor do deputado estadual Edson Aparecido (PSDB), chefe da Casa Civil do governo de Alckmin.
Aparecido e os também deputados estaduais Itamar Borges (PMDB) e Roque Barbiere (PTB) aparecem em ligações telefônicas grampeadas durante a operação. Barbiere, em uma ligação interceptada, aparece negociando com Ferreira um repasse no valor de R$ 250 mil para a prefeitura de Barretos (SP).
De acordo com o jornal O Estado de São Paulo, Alckmin afirmou hoje (15) que tem "absoluta confiança" em Edson Aparecido, "Tenho absoluta confiança no trabalho do secretário Edson Aparecido. Conversei com ele (sobre o caso) e quero reiterar aqui a minha confiança", afirmou Alckmin, de acordo com o jornal.
Para a assessoria da Procuradoria Geral do Estado de São Paulo, por enquanto não há o que investigar sobre o caso, já que o chefe da Casa Civil não aparece como suspeito nas denúncias de irregularidades denunciadas até o momento.
Aparecido recebeu da Demop doações no valor de R$ 91 mil para sua campanha a deputado federal em 2006 e de R$ 170 mil de outra empresa do Grupo Scamatti na campanha a deputado estadual em 2010. Procurado via assessoria de imprensa da Casa Civil e do governo do estado, o secretário não se pronunciou a respeito.
A Demop Particiapações Ltda., por meio de uma nota assinada por seu departamento jurídico, informou que não teve acesso, até o presente momento, ao conteúdo integral das investigações da Operação Fratelli.
Segundo a empresa, isto configuraria um procedimento inusitado e, assim que se tenha acesso aos autos da operação, serão comprovadas a improcedência das acusações e a licitude de seus contratos. A empresa também informa na nota que vai cumprir regularmente o pactuado nos contratos com as prefeituras.
A empresa é apontada como uma das maiores beneficiadas por emendas de parlamentares paulistas que destinavam verbas do governo estadual para obras em prefeituras da região noroeste do estado no ano de 2011.
De acordo com informações da Polícia Federal e do Ministério Público, por enquanto, não há suspeitas de irregularidades nas destinações de emendas de parlamentares federais junto a verbas liberadas pelo governo federal, via ministérios das Cidades e do Turismo, e parlamentares estaduais vias verbas do governo de São Paulo.
De acordo com informações do Ministério Público do Estado de São Paulo, nos próximos dias as investigações feitas pelo MP e pela PF na Operação Fratelli devem ser distribuídas a promotorias estaduais, que poderão investigar as denúncias de irregularidades contra deputados e secretários do governo de São Paulo. Denúncias contra o governador só podem ser investigadas pela Procuradoria Geral de Justiça de São Paulo.
Segundo informações da PF e do MP em Jales (SP) e em São José do Rio Preto (SP), de onde foram deflagradas as ações da Operação Fratelli na semana passada, as investigações de irregularidades nas licitações de prefeituras no interior paulista continuam a ser feitas pelos dois órgãos, independentemente da distribuição das investigações para o MP na capital.

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