PT: crítica e autocrítica
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Por Valton de Miranda Leitão - Psicanalista - valtonmiranda@gmail.com
O cenário político desenhado depois das últimas eleições mostra a urgência do debate crítico e autocrítico na esquerda e principalmente no PT. O resultado do processo eleitoral embora não desfavorecendo o PT num sentido global, principalmente com a vitória na prefeitura de São Paulo, demonstra por outro lado com a derrota em grandes capitais como Fortaleza, Belo Horizonte e Recife, que o eleitorado migrou para outros partidos, principalmente para o PSB.
A arquitetura do PT fracionado entre grupos e
tendências foi paradoxalmente virtude e fraqueza do partido. A virtude
era inicialmente o estímulo ao debate político que cessou quando o
organismo partidário passou a privilegiar os acordos eleitorais e
alianças pragmáticas para alcançar o poder. Nesse sentido, abandonou a
política como fizeram todos os outros partidos, para ingressar no embate
eleitoral guiado pelo comércio publicitário e pelos patrocínios
milionários de empresários que necessariamente exigem “caixa dois”.
Cessado o ciclo virtuoso, começa o período vicioso, no qual o poder pelo poder estimula a emocionalidade, trazendo de volta a discussão que na Revolução Francesa de 1789 opunha razão e paixão. Nessa discussão razão versus paixão, a razão costumeiramente sai perdedora. Além disso, a engrenagem do partido favorece o desenvolvimento da guerra interna de tipo paranoico, na qual o inimigo é quase sempre vivido mais intramuros do que no combate social-objetivo.
Isso deixou o campo livre para que o julgamento político-midiático do chamado mensalão produzisse os efeitos desejados pela direita, manipulando habilmente a ética de superfície da classe média ao lado de uma jurisprudência autoritária, oscilando entre o cômico e o técnico. Nesse sentido, a igualdade de poderes aparentemente é alterada a favor do Judiciário, copiando o modelo norte-americano. Além disso, o uso abusivo da mitologia Lula acaba por levar à crença mágica no fetiche, combinado com acordos empobrecedores da práxis política.
O sintoma mais grave do empobrecimento da política é a fuga dos intelectuais, seja para a descrença niilista ou direitismo aberto. Não existe transformação política sem teoria, tanto no confronto entre posições ideológicas, quanto na luta interna. A esquerda e o PT desprezaram seus intelectuais orgânicos que não encontram abrigo no pragmatismo da combinatória mercado e partido. O caminho também frequente do pensamento sectário do esquematismo direita versus esquerda ou proletariado contra burguesia, não alcança a complexidade da cultura contemporânea manipulada pela mídia e sistema informacional eletrônico.
Tal dispositivo favorece o investimento do eleitorado em personalidades narcisistas e oligarquias que opõem habilmente a ética da competência à ética da fé do radicalismo de esquerda (Weber). O processo político cearense não foi essencialmente diferente do ocorrido no País, mas aqui as fraturas tanto no PT quanto na base aliada do governo Dilma ainda não foram superadas. A crise estrutural do capitalismo e a nova configuração política exigem o retorno ao debate.
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