Alckmin vai à Alstom e autoriza a fabricação de 12 trens para a CPTM; superfaturamento de R$ 430 mi
Em
fevereiro de 2006, dois meses antes de se desincompatibilizar para
disputar a Presidência da República, Alckmin, em evento na Alstom, em São Paulo
por Conceição Lemes
Os tucanos José Serra e Geraldo Alckmin insistem que desconheciam a
existência do cartel de empresas, que fraudava as licitações do Metrô e
da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM).
Porém, são crescentes os indícios de que, desde 2005, eles sabiam do
esquema de superfaturamento de contratos e pagamento de propina em
contratos da multinacional francesa Alstom no setor de transportes
públicos em São Paulo.
Reportagens publicadas em outubro pelo Estadão e IstoÉ
revelam um comprometedor e-mail, de 18 de novembro de 2004, do então
presidente da Alstom no Brasil, engenheiro José Luiz Alquéres, a
executivos da matriz na França. Nele, Alquéres “recomenda
enfaticamente” a diretores da empresa que utilizem os serviços do
consultor Arthur Gomes Teixeira, apontado pelo Ministério Público do
Estado de São Paulo como lobista e pagador de propinas a servidores do
Metrô e CPTM.
No e-mail de 2004, Alquéres salienta também a “longa história de
cooperação” da Alstom com as autoridades do Estado de São Paulo. Ele
diz: “O novo prefeito recém-eleito [José Serra] participa das
negociações que nos permitem reabrir a Mafersa como a Alstom Lapa, assim
como o atual governador [Geraldo Alckmin]”.
Na mensagem, Alquéres, que atuou nas empresas energéticas paulistas
antes da privatização, diz acreditar no sucesso em quatro licitações da
CPTM e do Metrô que ocorreriam, em breve, e que representariam “um total
de 250 MEUR (milhões de euros)”.
Veja a íntegra do e-mail:
Nestes tempos de mudança nós sofremos duas grandes derrotas nas
licitações públicas, as primeiras em muitos anos. Mas ainda pudemos ser
bem sucedidos nos 4 projetos que o Estado de São Paulo vai negociar e
leiloar na próxima semana:
1) PQRM número 2….. CPTM
2) Emenda COFESBRA….. CPTM
3) Sistemas da Linha 2 do Metrô…… Metroesp
4) Linha 2 do Metrô (11 trens) - Metroesp
Esses projetos representam um total de 250 MEUR (milhões de euros).
Temos uma longa história de cooperação com as autoridades do Estado de
São Paulo onde nossa fábrica está localizada. O novo prefeito
recém-eleito [ José Serra] participou nas negociações que nos permitem
reabrir a Mafersa como a Alstom Lapa, assim como o atual governador
[Geraldo Alckmin].
Três das cinco pessoas que recentemente foram dispensadas, como Carlos
Alberto e Reynaldo Goulart ou foram transferidas como Reynaldo Benitez
desenvolveram fortes e bons relacionamentos pessoas com membros da CPTM e
Metrô. É importante também ressaltar que nas licitações realizadas nos
últimos anos – como a linha da CPTM que a Alstom ganhou – assim como em
muitas outras negociações nós temos sido auxiliados pelo consultor
Arthur Teixeira, da Procint, que demonstrou grande competência tanto em
“bom quanto em mau tempo”, trabalhando com as pessoas acima mencionadas.
Eu fortemente recomendo a utilização do expertise de Paulo Borges e
Arthur Teixeira nestes projetos independentemente do que você planeja
construir no futuro (e que eu concordo, mudanças são necessárias, porque
a vida – como um todo – é uma mudança permanente).
Neste caso em particular, não há tempo agora para novas mudanças ou
novos experimentos. O processo está rodando, eu estou começando a
receber mensagens de potenciais parceiros, concorrentes e
(ininteligível).
Na sequência desse e-mail de Alquéres , três fatos chamam-nos a atenção:
Em 28 de dezembro de 2005, sai o aditamento para a compra de 12 trens
da Cofesbra, uma associação entre entre Alstom e CAF, para a CPTM por R$
223,5 milhões.
Um mês antes, porém, em evento realizado na Federação das Indústrias do
Estado de São Paulo (Fiesp), o governador Geraldo Alckmin já anuncia o
aditivo, como mostra a Revista Ferroviária, em 30 de novembro de 2005:
O governo de São Paulo vai encomendar 12 trens novos para trafegar na
Linha C da CPTM. O investimento será de R$ 200 milhões e a fabricação
dos TUEs ficará a cargo do consórcio Cofesbra — Consórcio Ferroviário
Espanha-Brasil — liderado pela CAF com a participação da Alstom e da
Bombardier. A formalização do contrato será feita no próximo dia 8 pelo
governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que anunciou a encomenda na
abertura do seminário `A retomada e a ampliação do setor ferroviário` no
CIESP — Centro das Indústrias de São Paulo — na terça feira passada. No
dia 8 será apresentado um mock-up do TUE, fabricado pela Alstom
Em fevereiro de 2006, dois meses antes de se desincompatibilizar para disputar a Presidência da República,Alckmin vai à sede da Alstom,
no bairro da Lapa, em São Paulo, para anunciar a autorização para a
fabricação dos 12 trens que constam do aditivo de R$ 223,5 milhões.
Segundo o Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCESP), houve
superfaturamento. E o Ministério Público do Estado de São Paulo
identificou “grave irregularidade no sexto aditamento, verdadeira fraude
à licitação e desvirtuamento total do contrato inicial”.
Explica-se. A concorrência era de 1995 e o aditivo em questão — o sexto! — considerado ilegal.
A investigação do sexto aditivo assinado entre a Cofesbra e CPTM mostrou aumento de 73,69% no valor da compra dos trens.
Ou seja, superfaturamento de R$ 160 milhões, que em valores corrigidos
chegam a R$ 430 milhões. Isto foi possível descobrir devido a uma proposta mais barata da Mitsui, que se encontra em poder do Ministério Público do Estado de São Paulo.
Diante dessas coincidências como é possível o governador Geraldo Alckmin
continuar dizendo que não tinha conhecimento do trensalão?
Investigações sobre cartel nos trens em SP começaram em 2009
Em 2009, o Ministério Público tomou conhecimento de três documentos
queforam fundamentais para o início das investigações em São Paulo.
Rodrigo Mendes
São Paulo - Apesar de tucanos terem tentado intimidar os responsáveis
pelas investigações e desacreditar o que tem sido divulgado sobre o
esquema de corrupção que teria funcionado durante os governos Covas,
Alckmin e Serra, os documentos que deram início às investigações estão
de posse do Ministério Público desde 2009.
Apesar de os documentos e o grosso da investigação só terem vindo à tona
agora, o certo é que elas já existem desde 2009, quando o Ministério
Público tomou conhecimento de três documentos que foram fundamentais
para o início das investigações, segundo informações veiculadas na Folha
de S.Paulo desta quinta-feira (28). Um desses documentos chegou a ser
divulgado em 2009 mesmo, pela revista Carta Capital.
Isso derruba a tese de tucanos enfurecidos de que as informações têm
sido forjadas e usadas como forma de criar uma cortina de fumaça de modo
a tirar o foco das repercussões sobre a Ação Penal 470, do mensalão. A
tática do PSDB para rebater as acusações que envolvem, além de três
governadores, uma série de tucanos do alto escalão e seus aliados, foi a
de desacreditar os denunciantes e as provas produzidas pelas próprias
empresas envolvidas, além de questionar os procedimentos adotados pelo
Ministério da Justiça e pelo deputado Simão Pedro, que recebeu denúncias
em 2010 e 2011, e as enviou o Ministério da Justiça e ao Ministério
Público.
Em nota divulgada quarta-feira (27), o PT, partido de Simão Pedro,
defendeu o deputado das acusações tucanas, afirmando que ele “atuou de
maneira irretocável ao encaminhar o pedido de investigação ao Ministro
da Justiça”.
Como já foi divulgado aqui na Carta Maior, a Siemens, entre outras
empresas envolvidas no cartel das licitações de trens de São Paulo,
firmou em maio um acordo de leniência com o Conselho Administrativo de
Defesa Econômica (Cade), comprometendo-se a colaborar com as
investigações sobre o cartel. Desde então, o que as investigações
apontam, em grande parte em função das provas apresentadas pelo
ex-diretor da Siemens, Everton Rheinheimer, é o envolvimento de diversos
membros de sucessivos governos tucanos, entre os quais o homem-forte do
governo Alckmin, chefe da Casa Civil, o deputado licenciado Edson
Aparecido (PSDB).
Alguns dos envolvidos diretamente mencionados nos documentos
apresentados até aqui são o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), o
secretário estadual de Energia José Aníbal, que é deputado pelo PSDB de
São Paulo, Jurandir Fernandes, secretário de Transportes
Metropolitanos, Rodrigo Garcia, secretário de Desenvolvimento Econômico,
o deputado Arnaldo Jardim (PPS-SP), aliado dos tucanos de longa data,
entre outros.
Segundo o que já foi apresentado pelo ex-executivo da Siemens, “há uma
série de documentos que provam a existência de um forte esquema de
corrupção no Estado de São Paulo durante os governos (Mário) Covas,
(Geraldo) Alckmin e (José) Serra, e que tinha como objetivo principal o
abastecimento do caixa 2 do PSDB e do DEM. (...)Trata-se de um esquema
de corrupção de grandes proporções, porque envolve as maiores empresas
multinacionais do ramo ferroviário como Alstom, Bombardier, Siemens e
Caterpillar e os governos do Estado de São Paulo e do Distrito Federal”.
Por Thietre Miguel -Rio de Janeiro
Postado há 23 hours ago por FRAZÃO
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