domingo, 23 de junho de 2013

Via FB - Roberto Tardelli - INGENUIDADE HISTÓRICA

Roberto Tardelli · 2.759 seguidores
há 16 horas próximo a São Paulo ·
INGENUIDADE HISTÓRICA

Nesse momento, exatamente agora, dezenas de milhares de pessoas abraçam o Prédio, Sede do Ministério Público de São Paulo, Instituição à qual pertenço, com o meu mais absoluto orgulho e discernimento, há trinta anos. Tudo o que tenho, tudo o que aprendi, que fui e que voltei, que ganhei e que perdi, teve no Ministério Público minha cena aberta. Vejo as pessoas caminhando para a Rua Riachuelo e será muito comovente que elas lá estejam, porque irão fazer aquele abraço simbólico, que expressa legitimidade e apoio, que entrega ao Ministério Público, certamente porque vêem em seus integrantes pessoas idôneas e competentes para o combate ao Mal a ser vencido: a corrupção, no dizer de Ulisses Guimarães, o “cupim da República”, expressão genial do maior estadista brasileiro.

Não temos educação, segurança, saúde porque os recursos públicos foram pura e simplesmente roubados ao povo. Não temos estradas, escolas, hospitais e prisões porque os recursos públicos foram roubados ao povo.

A corrupção minou nossos valores fundamentais e por causa dela as crianças agridem professores, as pessoas matam por nada, roubam por nada, estupram, esfolam, simplesmente porque todos sabem que nada acontecerá. Vivemos uma difusa “certeza da impunidade”. Um adolescente de dezesseis anos sabe o que faz, ter ideia certa do que faz e não punido severamente quando faz algo terrível.

A corrupção criou formas de viver sem trabalhar. Ser pobre tornou-se uma profissão rentável, porque o governo – exemplo da impunidade, porque é liderado por uma ex-terrorista, assaltante de bancos – dá dinheiro que retira a vontade de trabalhar, de ser empregado de quem sustenta de verdade essas excentricidades sociais.

A corrupção criou o crime organizado e as facções criminosas. A corrupção alimenta o tráfico de armas. A corrupção criou o tráfico de órgãos e de pessoas. A corrupção inventou os “petralhas”.

Pronto. Basta acreditarmos nisso para que se resolva nossa tormenta. Basta acreditarmos nisso para que nos aprontemos para uma nova quebra institucional e uma nova ditadura se instale. Claro, uma Ditadura que não permita ex-terroristas no Poder, apenas ex-torturadores.

Imaginar que a corrupção seja a base do nosso sofrimento é de uma ingenuidade política atroz e é abrir a História para que um novo ciclo de corrupção se inicie. Vamos trocar de ladrões, nada mais.

O Brasil é o 85º país em qualidade de vida e o 69º mais corrupto do mundo. O critério é o de sempre: renda, saúde e educação públicas.

A escola pública nos transmite nossa primeira experiência de vida social, de diversidade social. É o lugar em que o filho do patrão e o filho do empregado vivem sob as mesmas regras, mesmas notas, mesmas provas.

Na escola pública, tudo ali é de todos. A professora ensina a todos e pode ocorrer de o filho da faxineira se sair melhor em Física, Química e Biologia que o filho da patroa. Na escola pública de qualidade, aprende-se naturalmente o mais importante dos conceitos republicanos: a igualdade, que faz respeitar a “res publica”, a “coisa de todos”.

Quando ela fracassa, quem tem dinheiro se protege. Matricula seus filhos em escolas particulares. Quem não tem dinheiro, suporta o fracasso público, em escolas de baixa qualidade. Não há mais diversidade: na escola pública, se acotovelam os inferiores e pobres e subalternos; na escola particular, estuda a elite, cada vez mais corporativista, porque perde a noção da diversidade. Em outras palavras, o apartheid econômico que gera o apartheid cultural. A sociedade abre um fosso. A Nação sofre uma fratura e seu elo de solidariedade passa a funcionar apenas em cada estamento. A “res publica” não mais existe porque se perdeu o conceito de igualdade, de cidadania, que passa a ser prerrogativa de uns poucos.

A perda da noção da igualdade gera uma classe que ao longo do tempo vai adquirindo direitos, que não direitos, mas abusos de direitos: a Universidade pública passa a ser para os mais ricos e deixa de ser pública, para ser elitizada. A praia passa ser local de divertimento de brancos e local de trabalho de negros. Os índios não passam de beberrões mimados e atrapalham a produção agrícola em fazendas que mais se parecem províncias. Os shoppings centers não admitem seguranças que não sejam negros e consumidores que não sejam brancos.

Essa quebra de igualdade gera o apoderamento do Estado e o que nos pareceria corrupção não é mais que o prosseguimento de uma relação de poder. Se a obra é entregue, mas superfaturada, não importa; o superfaturamento é uma espécie de autocompensação pelo atendimento de necessidades de pessoas inferiores. A máquina pública gira na mão da elite. Pertence a ela. A elite comemora e os paraísos fiscais se tornam cada vez mais paradisíacos.

Quando esse apartheid começa a explodir nas ruas, quando a vida se torna insuportável para um enorme contingente de pessoas, quando a criminalidade patrimonial rasteira começa a se capilarizar, quando mais e mais crianças são jogadas na rua por uma escola pública cada menos capaz de dar-lhes um mínimo de repertório de conhecimentos que as faça desenvolverem-se como pessoas, quando a pressão pela sobrevivência retirar mais e mais a capacidade de sonhar dessa gente periférica, quando as condições de moradia forem insuportáveis, aquela elite, por ser corporativista, por ter perdido a noção de solidariedade, se pega em lanças e recrudesce o tratamento penal, aflitivo e junta seus lobos particulares privativas e direciona a guarda pública contra os que ameaçam a tranquilidade dos casarões e das províncias rurais. Não casualmente, os periféricos.

Convencer pessoas incultas que tudo é culpa da corrupção fica fácil, porque a corrupção gera um inimigo visível: o excesso de liberdade e os que dele se aproveitam. É mais fácil suprimir a liberdade do que refundar um Estado absurdamente injusto. É a forma mais palatável de combater a corrupção, sem que nada seja mexido nos confortos de quem os tem de sobra em sua vida. Continuaremos corruptos. Corruptos, com cadeias lotadas de ladrões pobres, enquanto os ladrões ricos continuarão jogando em Las Vegas.

A corrupção é apenas a desculpa eterna para a quebra institucional – ontem foram os comunistas, hoje é a criminalidade urbana – porque a ela sempre se associam os inimigos de ocasião.

É o que ocorre hoje. Por isso, meu medo é que esse emocionado abraço simbólico que recebeu o Ministério Público seja, no final, um abraço de urso e nos transforme em tropa especial de ataque ao nosso mais valioso bem: a Democracia.

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