Não à remoção dos moradores do Horto Florestal do RJ PARTICIPE !
Não à remoção dos moradores do Horto Florestal do RJ
Há 58 anos, em 20 de julho de 1954, um casal de jovens trabalhadores
chegou ao Horto Florestal vindo de São João do Meriti. Ele havia sido
contratado pelo Ministério da Agricultura para prestar serviços ao
Jardim Botânico. Emília, minha irmã mais velha, ainda era criança. Eu
nasci no dia seguinte, o primeiro de muitos membros da família Souza a
nascer no Horto.
Estas são as raízes da nossa família, que tem
como matriarca minha mãe, conhecida por todos como Tia Elza. Naquela
época o Horto já era uma comunidade cheia de tradição. Não eram poucos
os idosos nascidos no Horto cujos avós já trabalhavam e moravam ali,
remontando a uma ancestralidade bicentenária.
Quando na década
de 1980 o então Instituto Brasileiro de Desenvolvimento (IBDF) iniciou
as tentativas de remoção, foram as velhas lideranças do Horto que nos
convocaram para luta. Ainda me lembro de alguns rostos, como o do Seu
Roberto Penelo, fundador da Associação de Moradores, Seu Amâncio, Seu
Tuninho Caranguejo, Seu Juarez, que fundou o meu time de futebol, Seu
Roberto Palladinho, Dona Maninha, Dona Elza Lagame. Todos tinham mais de
70 anos de Horto.
Confesso que tenho evitado comentar o
litígio fundiário que envolve a comunidade do Horto e a atual direção do
Jardim Botânico, para não partidarizar a questão. Da mesma forma, tento
não polemizar com lideranças da AMA-JB. Entendo que eles buscam exercer
com legitimidade a representação de parte dos moradores do bairro que
não se conforma com a presença de uma comunidade pobre em área limítrofe
ao Jardim Botânico. Mas o fato é que meu nome e minha figura estão
indissociavelmente ligados aquela comunidade, rendendo a mim citações e
ataques constantes por parte dos opositores. Situação que parece se
intensificar na medida em que se aproximam as próximas eleições
municipais, em nítida demonstração de que o debate está contaminado pelo
processo eleitoral.
Por este motivo resolvi postar na rede
uma mensagem sobre a questão, para que os interessados possam formar
juízo sobre o assunto tendo também como base o meu ponto de vista.
A fim de desqualificar minha presença na discussão, os adversários –
incluindo o candidato a vice-prefeito na chapa do PV – tentam transmitir
para a população a ideia de que meu mandato é o único obstáculo à
retirada dos moradores pobres daquela região. Uma tese mentirosa, que
não reconhece a longa trajetória de luta destas pessoas pela preservação
da localidade. Nos difíceis anos da ditadura militar, por exemplo, os
moradores do Horto se mobilizaram para impediram que o BNH construísse
um enorme conjunto habitacional na área. Ainda na década de 1960, as
mesmas lideranças conseguiram bloquear a tentativa do então governador
Carlos Lacerda de criar um cemitério no local. Fatos que muita gente
ignora, por conveniência ou falta de sensibilidade social.
Pautada por preconceitos e impulsionada pela pressão imobiliária, volta a
ganhar corpo a ideia de que a comunidade é o espaço da pobreza e que é
preciso separá-la da sociedade. E assim, o grupo em defesa desta tese se
traveste de uma falsa defesa do meio ambiente para alcançar seus
objetivos. Refutam o diálogo, insistem em qualificar os moradores como
“invasores” e “ilegais”, e defendem a remoção de todas as casas sem
qualquer entendimento com as famílias, colocando as mesmas sob estado
permanente de tensão.
A ideia de remoção compulsória trouxe
para o Rio o estigma de cidade partida. As comunidades removidas dentro
de uma equivocada política de “purificação social” se transformaram em
verdadeiros guetos, onde hoje o que se encontra, invariavelmente, salvo
as comunidades atendidas pelas Unidades de Polícia Pacificadora, é a
presença do tráfico de drogas ou de milícias paramilitares. É o tipo de
política que não pode se admitir hoje.
Felizmente, a remoção foge
da conceituação atual sobre a ligação do homem com o território que
ocupa. E atualmente a Justiça observa que as famílias estabelecidas em
determinada comunidade possuem toda uma logística consolidada de
transporte, educação e saúde. Não se pode, simplesmente, remover as
pessoas.
Obviamente, qualquer radicalismo estará equivocado no
trato desta questão. Em que pese o sagrado direito à moradia digna, é
importante abrir espaço para o desenvolvimento da cidade. Neste sentido,
o ideal é que ocorra uma ponderação de interesses, para que os excessos
e as injustiças sejam corrigidos, e para que sejam encontradas soluções
negociadas que contemplem a todos.
Após décadas de disputas
judiciais, a Secretaria de Patrimônio da União (SPU) colocou em curso,
com o apoio da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, a regularização fundiária tanto dos moradores
do Horto quanto do próprio Instituto de Pesquisas Jardim Botânico, cuja
área até hoje não está legalmente delimitada. Detalhado estudo
elaborado pelo órgão já demonstrou que é perfeitamente possível
conciliar a permanência dos moradores do Horto com a expansão da área de
visitação do Jardim Botânico. E é isso que a SPU propõe, reassentando
em localidade próxima as pessoas que hoje ocupam imóveis em situação de
risco ou construídos na área atualmente abrangida pelo arboreto – em
área próxima, e não em Nova Sepetiba, como chegou a defender o atual
presidente do Jardim Botânico.
É por todos esses motivos que luto com esse povo e digo com todas as letras:
Vão para as ruas, lutar pelo seu direito digno e inalienável à moradia. Não à remoção!
Deputado federal Edson Santos (PT-RJ)
RESPEITO AOS PROFESSORES COMEÇA COM SALÁRIO DIGNO . . .
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