Por Altamiro Borges
Em
debate promovido ontem pela TV A Crítica, em parceria com a Rede
Record, o candidato tucano Arthur Virgílio até tentou se travestir de
civilizado e humilde – já que o estigma de truculento e “valentão” pesa
contra ele junto ao eleitorado de Manaus. “Eu já cometi muitos erros,
nunca o da omissão”, confessou. “Eu lhe desejo paz”, disse, dirigindo-se
à senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB), que cresce nas pesquisas e está
tecnicamente empatada na disputa pela prefeitura da capital amazonense.
A manobra marqueteira
Já
numa entrevista ao sítio do jornal A Crítica, o tucano garantiu que
cumprirá os quatro anos de mandato e que não usará o cargo como
trampolim. “Não sou macaco político”. Ele evitou criticar o
ex-presidente Lula – a quem já prometera “dar uma surra” - e disse que o
convidará para assistir os jogos da Copa de Mundo “na tribuna de
honra”. Solicitou apenas que Lula parasse de atacá-lo. “Raiva não faz
bem à saúde de Lula”. Ele ainda pediu desculpas aos camelôs, que foram
reprimidos durante sua gestão na prefeitura.
Diante
da mídia, Arthur Virgílio se esforça para manter a pose de civilizado –
já nas ruas, seus apoiadores distribuem material difamatório proibido
pela Justiça Eleitoral e alguns até disparam cusparadas. O tucano deve
estar apavorado. Em 2010, ele também usou esta tática marqueteira, mas
foi derrotado na disputa pelo Senado – exatamente para Vanessa
Grazziotin. O seu desespero decorre do fato de que ele não consegue
apagar a sua sinistra trajetória de mais de 30 anos na política. Lembro
abaixo alguns fatos marcantes:
Amigo dos ricos, inimigo dos pobres
Na
batalha da CPMF, Arthur Virgílio foi um dos mais ácidos críticos do
tributo que penalizava os ricaços e priorizava os programas sociais. Ao
tentar agradar as camadas abastadas, inimigas de impostos e adeptas da
sonegação, colocou-se contra os mais pobres, inclusive do seu estado,
que dependiam deste tributo para ter acesso à saúde. Furioso, o senador
até ameaçou renunciar ao cargo de líder do PSDB caso os seus pares
seguissem a orientação de governadores tucanos, que contavam com o
repasse da CPMF.
A
revista Carta Capital estampou na capa a fotomontagem de Arthur
Virgílio como papagaio de pirata de FHC, prognosticando que o senador
poderia sentir os reflexos desta atitude antipopular com uma nova
“surra” no pleito ao Senado em 2010. Mas o tucano não recuou. Logo na
sequência, ele reocupou o papel de testa de ferro dos ricaços, em
especial dos banqueiros, na batalha contra o aumento das alíquotas do
IOF (Imposto sobre as Operações Financeiras) e da CSLL (Contribuição
Social sobre Lucros Líquidos).
As bravatas do senador tucano
As
mentiras e bravatas de Arthur Virgílio já são conhecidas. A
enciclopédia eletrônica Wikipédia até as tornou famosas no mundo. No
verbete dedicado ao folclórico político amazonense, ela apresenta vários
casos escabrosos. Lembra que o tucano, um dos vestais da ética contra
os “recursos não contabilizados” do PT, confessou ao Jornal do Brasil,
em 19 de novembro de 2000, que também usou tal expediente:
“Em
1986, fui obrigado a fazer Caixa-2 na campanha para o governo do
Amazonas. As empresas que fizeram a doação não declararam com medo de
perseguição política”, confessou. A matéria, intitulada “ilegalidade é
frequente”, abordou ainda as denúncias de doações de R$ 10 milhões à
campanha pela reeleição de FHC. Mas logo o papagaio de pirata fez a
defesa do chefão: “Vamos acabar com essa história de mocinhos
pré-fabricados e bandidos pré-concebidos. Neste país, o Caixa-1 é
improvável. A maioria das campanhas tem Caixa-2”.
“Dou uma surra no Lula”
A
enciclopédia também aborda outros temas constrangedores. Cita a
reportagem do jornal O Povo sobre a prisão do deputado Arthur Bisneto,
filho do senador, em outubro de 2004 – logo após obter apenas 3,3% dos
votos na eleição para prefeito de Manaus. Na praça matriz de Eusébio,
nas redondezas de Fortaleza, ele teria “baixado as calças, mostrando as
nádegas”, para duas adolescentes que não souberam dizer onde ficava o
“Cabaré da Tia Bete”.
Denunciado
por testemunhas, Bisneto foi preso por “atos obscenos”. Já na
delegacia, ostentando seu nome, desacatou a própria delegada Penélope
Malveira, voltando a baixar as calças. “Ele teria reagido com palavrões e
dito que com o relógio que estava no seu pulso dava para comprar
‘policiais, viaturas e você’ – referindo-se à delegada”. A cena
grotesca, envolvendo o “filhinho de papai”, é que explicaria a reação de
Arthur Virgílio, em novembro de 2005, quando afirmou em plena tribuna
do Senado que “se ameaçarem um filho meu, dou uma surra no próprio
Lula”.
Quem é “idiota ou corrupto”?
Agora,
novamente em campanha, o ex-senador evita criticar Lula, no mais
patético oportunismo eleitoral. Mas a sociedade sabe que ele foi um
inimigo raivoso do ex-presidente. Inclusive, ele utilizou a tribuna do
Senado para chamar Lula de “idiota ou corrupto”. Na sua histeria
golpista, pregou o impeachment contra o governante eleito
democraticamente. Durante uma única sessão da CPI dos Correios, usou 17
vezes o termo “idiota” ao se referir ao ex-presidente. “Volto a dizer
que nós temos um presidente que é um completo idiota ou é um corrupto”.
No
auge da sua fama, durante a crise do governo Lula, o exibicionista
tentou posar de arauto da ética. Mas, como revelou a minuciosa
reportagem de Fábio Jammal, na revista Fórum, ele não teria moral para
falar em corrupção. “Denúncias de mau uso do dinheiro público não
faltaram quando ele foi prefeito de Manaus (1989-93)... Em dezembro de
2004, a Corregedoria Geral da União lhe cobrou a restituição de R$ 154,7
mil aos cofres públicos por causa da falta de comprovação da aplicação
de recursos transferidos pelo extinto Ministério do Interior”.
“Virgílio
foi dos que pior reagiu à ação da Comissão de Ética quando, em
fevereiro de 2002, recebeu pedido de explicações. Ele era titular da
secretária-geral da presidência da República e frequentou naquele
carnaval os camarotes de empresas privadas no sambódromo carioca. Ele
considerou um acidente a admoestação da comissão e tentou dizer que
havia pagado R$ 2,5 mil pelo convite. Foi contestado, já que as
camisetas da empresa em questão não estavam à venda”.
Inimigo do MST e de Chávez
O
tucano também é inimigo declarado de todas as causas progressistas,
como a reforma agrária. Quando o ex-presidente Lula colocou o boné
vermelho do MST na cabeça, ele criticou “a sinistra e perigosa escalada
do governo, que tolera de maneira licenciosa, e por vezes indecorosa, a
agressividade do MST”. Para ele, a atitude democrática do presidente, de
respeito e diálogo com os movimentos sociais, “pode ser interpretada
como um apoio aos métodos ilegais, autoritários, antidemocráticos e
violentos de reivindicação política”.
Partidário
da derrotada proposta neocolonial dos EUA da Área de Livre Comércio das
Américas (Alca), o ex-senador fez de tudo para implodir a integração
soberana dos povos da região. O alvo da sua retórica agressiva era o
presidente da Venezuela. “Caso dependa do PSDB, a Venezuela de Chávez
não terá sua entrada no Mercosul aprovada”, afirmou. Numa entrevista à
revista Veja, o diplomata de formação Arthur Virgílio revelou todo o seu
rancor anti-diplomático. “O PSDB não compactuaria jamais com um regime
ditatorial como o de Hugo Chávez. O PSDB não perderia tempo acreditando
nas balelas do senhor Evo Morales”.
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